Transformando Três Lagoas: Os Dois Mandatos como Prefeita

O Contexto de Três Lagoas Antes da Gestão

Situada na divisa entre Mato Grosso do Sul e São Paulo, Três Lagoas era, no início dos anos 2000, uma cidade de médio porte com potencial de crescimento ainda inexplorado. Com uma população de aproximadamente 80 mil habitantes, o município enfrentava desafios típicos do interior brasileiro: infraestrutura deficiente, limitadas oportunidades de emprego e um desenvolvimento econômico aquém de suas possibilidades.

A cidade já contava com algumas indústrias de pequeno e médio porte, principalmente nos setores têxtil e alimentício, além de uma forte tradição na pecuária. No entanto, carecia de um planejamento estratégico que aproveitasse sua localização privilegiada e recursos naturais abundantes para um crescimento sustentável e inclusivo.

Foi neste cenário que Simone Tebet, então com 34 anos e experiência como deputada estadual, assumiu a prefeitura em 2005, após uma campanha que prometia modernizar a administração municipal e posicionar a cidade como um polo de desenvolvimento regional.

Primeiro Mandato: Bases para a Transformação (2005-2008)

O primeiro mandato de Simone Tebet como prefeita foi marcado por um diagnóstico minucioso da realidade municipal e pelo estabelecimento das bases para o desenvolvimento sustentável. Entre as principais medidas adotadas neste período, destacam-se:

Reorganização Administrativa e Fiscal

Logo nos primeiros meses de gestão, Tebet implementou uma ampla reforma administrativa, modernizando processos, profissionalizando o quadro de servidores e estabelecendo metas claras para cada secretaria. A informatização dos serviços públicos e a implantação de uma gestão orientada por resultados trouxeram mais eficiência e transparência.

No campo fiscal, a nova administração enfrentou o desafio de equilibrar as contas públicas, reorganizando a arrecadação municipal e combatendo a sonegação. Em menos de dois anos, a prefeitura conseguiu aumentar sua receita própria em 40%, sem elevar a carga tributária, apenas com medidas de eficiência fiscal e atualização cadastral.

"O princípio básico da nossa gestão foi fazer mais com menos, otimizando recursos e priorizando o que realmente importa para a população. Não se constrói uma cidade forte com finanças fracas."

Simone Tebet, em discurso na Câmara Municipal em 2006

Planejamento Urbano e Infraestrutura

Uma das marcas do primeiro mandato foi a elaboração do Plano Diretor Participativo, que definiu diretrizes claras para o crescimento ordenado da cidade. O processo envolveu mais de 5 mil cidadãos em audiências públicas, estabelecendo um novo padrão de participação popular na definição dos rumos do município.

Paralelamente, a gestão investiu na ampliação e modernização da infraestrutura urbana, com destaque para:

• Pavimentação de mais de 100 km de vias urbanas
• Ampliação da rede de coleta e tratamento de esgoto, atingindo 85% da área urbana
• Modernização do sistema de iluminação pública
• Construção de novos equipamentos públicos, incluindo unidades de saúde, creches e escolas

Atração de Investimentos: A Virada Econômica

O grande diferencial da gestão de Simone Tebet foi sua capacidade de atrair investimentos privados para o município. Com uma política agressiva de incentivos fiscais responsáveis e a criação de um ambiente favorável aos negócios, Três Lagoas viu, ainda durante o primeiro mandato, o anúncio da instalação de grandes empreendimentos.

O marco desta transformação foi a chegada de um complexo industrial de celulose, com investimento inicial superior a R$ 3 bilhões, que posicionou a cidade como um dos maiores polos do setor na América Latina. A decisão da empresa foi resultado de um trabalho articulado entre a prefeitura, o governo estadual e federal, com Tebet atuando como principal articuladora.

Além da indústria de celulose, a cidade atraiu empresas dos setores de energia, metalurgia, têxtil e logística, criando um ecossistema industrial diversificado. Entre 2005 e 2008, o município viu a criação de mais de 8 mil novos postos de trabalho diretos e um crescimento do PIB municipal acima da média nacional.

Segundo Mandato: Consolidação e Expansão (2009-2010)

Reeleita em 2008 com mais de 70% dos votos válidos, Simone Tebet iniciou seu segundo mandato com o desafio de consolidar as transformações iniciadas e gerenciar o rápido crescimento da cidade. Este período foi marcado por importantes iniciativas nas áreas sociais e de desenvolvimento humano.

Educação como Prioridade

Compreendendo que o desenvolvimento econômico precisava ser acompanhado pela formação de capital humano qualificado, a gestão priorizou investimentos em educação. O município ampliou significativamente a rede municipal de ensino, com a construção de 7 novas escolas e 12 centros de educação infantil.

Além da expansão física, houve uma reforma pedagógica, com a implementação de metodologias inovadoras e programas de formação continuada para professores. Os resultados não tardaram a aparecer: em dois anos, o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do município saltou de 4,2 para 5,8, colocando Três Lagoas entre as 50 cidades com melhor desempenho educacional do país.

Um dos projetos mais emblemáticos foi o "Escola Integral", que ampliou a jornada escolar para 8 horas diárias em 60% das escolas municipais, oferecendo atividades complementares em esporte, cultura e tecnologia. O programa, posteriormente, serviu de inspiração para políticas estaduais e federais de educação em tempo integral.

Saúde e Bem-estar Social

Na área da saúde, o segundo mandato foi marcado pela inauguração do Hospital Municipal, equipado com tecnologia de ponta e 120 leitos, reduzindo a dependência de encaminhamentos para Campo Grande e outras cidades maiores. A gestão também ampliou a rede de atenção básica, com a construção de 10 novas Unidades Básicas de Saúde e a implementação do programa "Saúde em Casa", que levava atendimento médico e preventivo às áreas mais vulneráveis da cidade.

No campo da assistência social, foram criados programas inovadores de inclusão produtiva para famílias em situação de vulnerabilidade, como o "Mulheres Empreendedoras", que oferecia capacitação e microcrédito para mulheres chefes de família iniciarem pequenos negócios.

Desafios e Polêmicas: Uma Gestão Não Isenta de Críticas

Apesar dos inquestionáveis avanços, a administração de Simone Tebet também enfrentou desafios e críticas importantes, que merecem ser analisados para uma compreensão completa deste período histórico da cidade.

Um dos principais pontos de tensão foi o impacto ambiental da rápida industrialização. Grupos ambientalistas questionaram a capacidade do município de fiscalizar adequadamente as novas indústrias, especialmente quanto ao uso da água e emissão de poluentes. Em resposta, a gestão criou a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e implementou um sistema de monitoramento ambiental considerado avançado para a época.

Outro aspecto controverso foi o rápido crescimento populacional e a pressão sobre serviços públicos. Entre 2005 e 2010, a população de Três Lagoas cresceu cerca de 20%, atraindo trabalhadores de diversas regiões do país. Esse afluxo gerou desafios na área habitacional e de infraestrutura urbana, com o surgimento de novos bairros e a necessidade de ampliação acelerada dos serviços públicos.

Transição e Legado para o Futuro

Em 2010, Simone Tebet renunciou ao cargo de prefeita para concorrer ao Senado Federal, deixando a administração nas mãos de seu vice-prefeito. A transição ocorreu de forma organizada, com a elaboração de um detalhado plano de continuidade para os principais projetos em andamento.

O legado da administração Tebet pode ser mensurado por alguns indicadores impressionantes:

• Crescimento do PIB municipal de 150% em cinco anos, três vezes superior à média nacional no período
• Redução da taxa de desemprego de 12% para 3,2%
• Duplicação do orçamento municipal sem aumento de impostos
• Ampliação da cobertura de saneamento básico de 60% para 92% da população urbana
• Melhoria de 38% no IDEB das escolas municipais

Mais importante que os números, contudo, foi a mudança na autoestima e na percepção dos cidadãos sobre sua cidade. Três Lagoas deixou de ser vista como uma cidade do interior com limitado potencial de crescimento para se tornar um polo industrial e de desenvolvimento, atraindo não apenas investimentos, mas também talentos e oportunidades.